Mário Medaglia: “Bye bye”, Brasil

08.10.2021

Mário Medaglia: “Bye bye”, Brasil

Depois de assistir a um belo jogo na semifinal da Liga das Nações, entre França 3 x 2 Bélgica, tive que ver Brasil 3 x 1 Venezuela. Cavacos do ofício. Mudei da noite para o dia, da sofisticada comida francesa para o arroz com feijão. Nada contra a culinária brasileira, muito saborosa, por sinal, mas tudo contra o insosso futebol mostrado pela seleção brasileira contra o pior time destas Eliminatórias Sul-Americanas.

Desligando da metáfora, vamos da mesa para o campo, onde o cardápio futebolístico europeu não se limita à sofisticação. Vai muito além, e também no popular, misturando temperos que dão gosto aos pratos. Qualidade coletiva e técnica apurada se juntam para nos deixar morrendo de inveja e estonteado com o aroma que vem desta Liga das Nações, reunindo o que tem de melhor na Europa. Como mostraram os franceses campeões do mundo contra os belgas.

Enquanto os campeonatos europeus param, obedecendo as datas FIFA, vamos tocando a cozinha brasileira em uma competição de menor valia. O Brasil parece jogar enfarado pela classificação antecipada à próxima Copa, enfrentando adversários com pouca resistência a oferecer. Até o Chile desandou com sua seleção com prazo de validade vencido. Bolívia, Venezuela, Paraguai e Peru descartaram seus melhores ingredientes, envelhecidos ao longo das duas últimas décadas. Uruguai e Argentina hoje são os únicos rivais que pesam na balança. A surpresa veio com a evolução gastronômica do terceiro colocado Equador.

Com o Brasileirão andando nosso Judas convoca brazucas e desfalca times candidatos ao título. Os clubes se acovardam para encarar a CBF e evitar um calendário desgastante, empobrecendo a preparação para a Copa. Enfrentamos times cacarecos, enquanto os europeus se esmeram jogando amistosos com muita proteína.

O resultado desta monumental diferença de organização? Vamos para outro Mundial na base do arroz com feijão, quitute que outrora encantou a Europa, mas atualmente mal temperado e sem gosto, a merecer críticas dos melhores chefs da bola. Perspectiva de título? Nenhuma. Foi-se a grife do penta, é panela velha que não faz mais comida boa. Levantemos as mãos para o céu se ficarmos entre os quatro primeiros no em 2022.

Até os europeus médios se alimentam melhor. Vide a Bélgica. Aqui passamos a roer osso, sentimos o cheiro do bom futebol ao longe. Nossos melhores jogadores estão fora, tratando das suas vidas, dos seus cabelos e das suas finanças, ao mesmo tempo em que perdem identificação com a seleção e com o torcedor brasileiro.

Bye bye prestígio, bye bye respeito à camisa amarela. O “7 a 1” não serviu de alerta. A CBF não tem tempo para servir prato mais atraente, incluindo um futebol minimamente organizado. Quem mora na aldeia e conhece o caboclo, entende porque a entidade anda tão ocupada com outros afazeres. Deixa o feijão queimar enquanto conserta os estragos provocados por um ex-presidente afastado do cargo por estripulias sexuais/administrativas.

Foto: Lucas Figueiredo/CBF

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