Henrique Santos: A Copa SC é fraca, mas é quem mantém viva a cadeia econômica do futebol

26.10.2023

Henrique Santos: A Copa SC é fraca, mas é quem mantém viva a cadeia econômica do futebol

Sem a Copa SC, times como o Figueirense e Hercílio Luz estariam parados de agosto a janeiro

Nesta quinta-feira, o Avaí entra em campo pela 33ª rodada da Série B. Antes disso, enfrentou a Chapecoense (ambos com times reservas) por mais um jogo da Copa SC. Jogou no domingo, também pelo Campeonato Brasileiro, enquanto o Figueirense atuou no sábado na competição estadual.

As rádios de Florianópolis transmitiram todos esses confrontos, até mesmo a VEG que, inicialmente, anunciou fazer somente os duelos do alvinegro na copinha, se rendeu e também cobriu a derrota do Avaí na terça-feira em Chapecó. As demais (CBN, Guarujá, Jovem Pan, Bestsound) acompanham a dupla da capital desde o início da Copa SC. Enquanto o time azul ainda tem a disputa contra o rebaixamento no nacional, o Figueirense estaria sem calendário desde agosto quando foi eliminado, ainda na primeira fase, da Série C.

Sem 50% do público espectador, como estaria a mídia da Grande Florianópolis (rádio, tv, jornal, internet) agora? Cobriria apenas os jogos do Avaí, projetaria o futuro do alvinegro dentro e fora de campo, além de debater o cenário do futebol brasileiro, seleção, Pan-americanos e futilidades. A Copa SC, embora deficitária, hoje, é responsável por fomentar e manter vivo o trabalho de muita gente, incluindo nós da imprensa.

Audiência do canal MBTV no Youtube (transmissão oficial da Copa SC)

  • Clássico – 112 mil visualizações
  • Inter x Figueirense – 62 mil views
  • Avaí x Joinville – 51 mil views
  • Avaí x Marcílio dias – 51 mil views
  • Jec x Figueirense – 49 mil views
  • Figueirense x Marcílio Dias – 39 mil views

Pode-se argumentar o pouco apelo, a falta de motivação, além de toda tentativa de enfraquecer a disputa catarinense, porém, é em virtude dela que a cadeia econômica do futebol está sendo movimentada em Florianópolis, Lages, Concórdia, Joinville, Tubarão, Itajaí, etc. Além da cobertura da mídia, os jogos, embora fracos e com público diminuto, levam gente aos estádios, geram emprego e renda a quem faz “freela” (ambulantes, segurança, bilheteiros, etc) e também mantém os clubes ativos, gerando produção de conteúdo e movimentando o torcedor, associados, patrocinadores, bem como toda a cadeia produtiva do futebol (roupeiro, maqueiro, fornecedores).

Diz-se ainda que a Copa SC é deficitária e que o prêmio (cota milionária pela vaga à Copa do Brasil) não compensa deixar os clubes abertos, pagando salários a jogadores, comissão técnica, dirigentes. Repito que, sem a disputa da copinha, oito dos dez participantes (exceto Avaí e Chapecoense) estariam sem calendário desde agosto. Até janeiro, quando começa o Campeonato Catarinense, seriam quase seis meses parados, deixando de falar com seu público consumidor, perdendo espaço na mídia, deixando de ter sócios e da marca exposta em tv e internet principalmente.

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Outro viés visto nos últimos dias aconteceu na disputa do Clássico. Avaí e Figueirense colocaram quase 8 mil pessoas, numa quarta-feira à noite, na Ressacada. Além disso, a transmissão oficial da competição (MBTV) ultrapassou 100 mil views com esse jogo. Somando-se a audiência das emissoras de rádio e internet no pré, durante e pós-Clássico, milhares de interações consumiram a partida, bem como os anunciantes, jornalistas, patrocinadores, etc. Só isso ajudou a pagar as despesas de muita gente boa na nossa imprensa. E ainda serviu para mexer com ambulantes, motoristas de aplicativo, estabelecimentos comerciais próximos à Ressacada, etc. Enfim, qual outro evento reuniu ou reunirá 8 mil pessoas no sul da Ilha num dia de semana à noite com frio e chuva? Provavelmente nenhum!

Se o futebol é fraco e não há prestígio por clubes, federação, associação e até mesmo por parte da imprensa, é preciso dar valor ao único calendário (por incompetência dos times) de 90% dos médios e grandes de Santa Catarina. É o que temos hoje!

Em meados de 2023, postei estudo acerca da cadeia produtiva e econômica do futebol com dados da consultoria Ernst & Young e da CBF ainda antes da pandemia. Relembre aqui: https://www.marcounoesporte.com.br/henrique-santos-a-cadeia-produtiva-e-economica-do-futebol-brasileiro-e-de-florianopolis/

Segundo os dados da EY, as receitas são divididas de tal forma:

  • 55% matchday
  • 33% clubes
  • 4% hotelaria
  • 4% outros
  • 3% mídia

Da mão de obra empregada, a maior parte (55%) é de pessoas envolvidas nas operações de jogos, chamado Matchday.

Podemos dividir tal relação da seguinte forma: Matchday – estrutura para realização das partidas, com seguranças, orientadores, stewards, dentre outros.

Demais atores envolvidos direta e indiretamente: CBF, Federações Estaduais, advogados e juristas esportivos, setor de hospitalidade, setor logístico, aviação, arbitragem e empresas de material esportivo.

Além disso, há geração de empregos e renda diretamente envolvidos nas competições disputadas em âmbito nacional. Em 2018, foram cerca de 156 mil postos de trabalho. “Os estádios, através de seus postos de empregos gerados a cada partida, alimentação e bebidas, são responsáveis por mais da metade do total de postos de trabalho gerados, alcançando aproximadamente 55% do total, reforçando que o principal gerador de empregos do Futebol Brasileiro é o espetáculo em si”, relata o estudo da EY”.

Por fim, a competição pode gerar ainda maior ônus aos participantes, porém a cadeia econômica parada por cinco meses (de agosto a janeiro) perde muito mais sem partidas, afinal os clubes de futebol (e outros esportes) existem por que jogam.

Henrique Santos

Por

Henrique Santos


Jornalista, administrador, especialista em gestão do esporte, blogueiro, assessor de imprensa. Apaixonado por futebol e carnaval. Como editor do jornal Alvinegro e do site MeuFigueira, blogueiro da ESPN FC, comentarista do podcast Clássico em Debate, busquei, desde 2009, carregar essa paixão pelo Figueirense com a razão que um jornalista precisa ter.

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