Dr. Funchal: Atividade esportiva e a hérnia de disco

24.08.2021

Dr. Funchal: Atividade esportiva e a hérnia de disco

Entre as diversas condições que costumam impedir as pessoas de treinar estão os problemas de coluna, que segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) 80% da população tem ou terá em algum momento da vida.

Atletas de alto rendimento, profissionais ou simplesmente, atletas recreativos podem, em algum momento da prática esportiva, se deparar com uma dor lombar forte, incapacitante, que dificulta a atividade física. Esta dor pode ser com ou sem irradiação pela perna e após uma avaliação médica receber o diagnostico de hérnia discal.

Vamos as definições importantes:

O que são os discos intervertebrais e para que servem?

Nosso discos intervertebrais são estruturas fibrocartilaginosas, que estão dispostos em toda a extensão da coluna (cervical, torácica e lombar), separando as estruturas ósseas dos corpos vertebrais. Podemos dividir esta estrutura da seguinte forma, uma porção mais fibrosa chamada de ânulo fibroso e outra mais elástica e gelatinosa, o chamado núcleo pulposo. Entre muitas das funções, as principais são amortecimento de carga, adaptação de cada corpo vertebral, atividade proprioceptiva e melhorar de forma suave a mobilidade da coluna.

O que é a hérnia discal?

Esta estrutura chamada disco vertebral, tem algumas características muito importantes da sua fisiologia, que ajudam a entender seus problemas. Um fator a ser salientado e a disposição de sua nutrição sanguínea, pois nossos vasos sanguíneos não chegam em toda parte do disco vertebral, e a sua nutrição depende justamente do impacto e mobilidade para que ocorra uma nutrição adequada desta estrutura. No entanto, estresse mecânico exagerado, frequente ou nas atividades inadequadas, ou mesmo nos movimentos bruscos inadvertidos, podem gerar problemas e causar a doença degenerativa discal. A hérnia discal é uma fase da desta doença.

Um fator também muito importante de se lembrar é que os nossos discos intervertebrais se desgastam com o tempo, com o uso repetitivo ou inadequado. Nessas situações podem ocorrer as hérnias de disco, ou seja, parte dos discos sai da posição normal e salienta-se ou protuem para um espaço, não adequado, comprimindo parte da medula ou raízes nervosas. O problema é mais comum nas regiões lombar e cervical, por serem áreas mais expostas ao movimento e que suportam mais carga. Além disso a região torácica é menos móvel e mais firme pela presença da caixa torácica.

As pessoas mais afetadas por uma hérnia de disco estão entre 25 a 45 anos. Após esta idade, os problemas com os discos, vem geralmente acompanhados dos famosos bicos de papagaios (complexos disco-osteofitários artrósicos).

Quais são os sintomas?

Um fato relevante a se lembrar, é que uma hérnia de disco pode ser assintomática. Esse é um dado muito importante, pois atualmente realiza-se muitos exames de imagem como Ressonâncias e Tomografias, e é muito comum “o achado” de hérnias de disco que não são ou estão diretamente responsáveis pelas queixas do paciente. Isso é realmente crucial para a determinação de fato e efeito, pois muitos atletas ficam preocupados com o laudo e podem passar a tomar medidas que acabem prejudicando mais ainda a saúde da coluna, como por exemplo, a suspensão de atividades físicas. Após os 50 anos, 30% das pessoas apresentam alguma forma assintomática desse tipo de problema na coluna, sem efetivamente ser um problema de hérnia de disco. Quando nos deparamos com um quadro de hérnia discal aguda, o quadro normalmente é exuberante e pode provocar dor intensa nas costas, ou quando há compressão nervosa, a dor pode irradiar para a região correspondente ao nervo que foi

atingido, a perna na região lombar e o braço na região cervical. Uma compressão da medula espinhal na região cervical pode levar a estes sintomas em todos os membros, assim como espasmos, rigidez e dificuldade para caminhar. Mas estes casos são mais raros e de medidas médicas emergenciais.

E os atletas com hérnia de Disco? É o Fim da carreira?

Geralmente o tratamento com medicamentos, reabilitação com fisioterapia de qualidade e um bom apoio para esclarecer os anseios e medos do paciente, têm eficácia na resolução das dores e incapacidades geradas por um “travamento” das costas. Infelizmente, em alguns pacientes, o tratamento conservador não resolve totalmente o problema. Surgem sinais de alerta como perda de força progressiva nas pernas, dor desproporcional, alterações importantes na marcha e etc. Nesses casos, se faz necessário procedimento cirúrgico para reduzir o sofrimento do doente e prevenir complicações mais sérias. Geralmente, nas cirurgias bem indicadas, a melhora da dor no pós- operatório é bem significativa, uma vez que a compressão mecânica gerada na raiz do nervo pela hérnia, é totalmente resolvida.

Após a cirurgia, a comunicação médico-fisioterapeuta será crucial. Detalhes operatórios serão descritos e muito do que só o cirurgião ortopedista ou neurocirurgião viu será compartilhado entre a equipe para determinar a velocidade e o ritmo da reabilitação. O papel do fisioterapeuta, é realizar uma avaliação e dimensionar as queixas que restarem, alinhando as expectativas com o paciente do trabalho que está por vir.

Na hora de voltar a incluir o exercício na rotina

Passada a etapa inicial do tratamento, que consiste no controle e na melhoria das dores, entra a atividade física. Pilates, ioga, musculação e RPG com orientação profissional são ótimas opções para fortalecer o corpo e reabilitá-lo. Geralmente são recomendados exercícios para dar força aos músculos estabilizadores da coluna e alongamentos para prevenir e tratar os encurtamentos. E de forma progressiva e paulatina tudo vai voltando ao normal.

Logicamente é de primordial importância ter sempre a avaliação de profissionais médicos e fisioterapeutas alinhados com este tipo de problema, assim como, com conhecimento profundo desta patologia que é complexa em sua natureza.

Foto: Istock Getty Images

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Dr. Luis Fernando Zukanovich Funchal Mestre em Ciências da Saúde Aplicadas ao Esporte e a Atividade Física - UNIFESP Chefe do Departamento Médico do Avaí Futebol Clube Pesquisador do LEBm/HU - UFSC Membro Titular da SBCJ Membro Titular da SBRATE

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