Crônica: A mística do Setor D do Avaí, por Lui von Holleben

01.06.2022

Crônica: A mística do Setor D do Avaí, por Lui von Holleben

A energia e a magia que a arquibancada de um estádio de futebol transmite, só o torcedor pode contar. Sócio do Setor D, da Ressacada, Lui von Holleben, escreveu uma crônica para a coluna sobre a vivência da torcida avaiana no Setor D, do Dr. Aderbal Ramos da Silva. Confira:

A mística do Setor D do Avaí

Se hoje eu pudesse dar uma dica a todos os amantes do futebol seria: se dirijam a Ilha de Florianópolis e assistam a um jogo do Avaí Futebol Clube no Setor D. 

Para quem não sabe, o Setor D é aquele grande bloco de calorosos torcedores que se encontra do outro lado da câmera da TV, portanto, é o que mais aparece nas transmissões. Não é raro ver na TV gente dando tapa no vidro na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença.

Consigo provar que lá se vive uma experiência futebolística completa e vim aqui contar algumas histórias que comprovam essa constatação.

Sou adepto a ideia do saudoso Aldirio Simões, que defendia o Manezinho da Ilha possuir raizes diversas: existe o Mané Urbano, aquele do Mercado Público, do Lira e do centro; o Mané da Praia, aquele que encontramos pelo Costão do Santinho ou lá pelos Açores; e é claro o Mané do Morro, tão presente nas nossas favelas de Florianópolis – dentre muitos outros.

Pois o Setor D, como uma mãe, consegue abrigar todos com sublime igualdade. São pessoas que raramente se conheceriam se não fosse o estádio. Este pedaço de estádio fica tão perto de jogadores azurras e quem está dentro das quatro linhas que muita mãe de juiz sai com a orelha quente quando o filho dá o apito final no Estádio da Ressacada.

Pois a mística começa antes do apito inicial, ainda lá fora. Os bares, espetinhos, as recentes Kombis de Chopp e é claro, os churrascos organizados de forma minuciosa por turmas de torcedores de todos os lugares (muitas vezes com Dazaranha no som).

Sem o glamour de Fan Fest e atrativos que os colegas do Setores A e B possuem no pré-jogo, a arquibancada Setor D faz sombra aos mais boêmios ilhéus que se reúnem para contar causos e por que não? Às vezes até pedir mais uma rodada mesmo após o início da partida, já que a fila pra entrar é grande. 

É claro, neste caso só resta ao típico torcedor do Setor D imaginar através de gritos: “Uhhh”, “Ahhh”, o que diabos está acontecendo no gramado. Quem salva a pátria normalmente é o torcedor que trouxe seu radinho de pilha e age como informante, já que se depender do sinal de internet ninguém conseguiria saber de resultado algum.

Enfim dentro do estádio o torcedor se depara com o cachorro quente, o pastel e a pipoca – mas maioria da turma do chopp prefere correr direto para o banheiro, isso sim. Importante lembrar que nos jogos de verão, a sombra do pré-jogo dá lugar ao sol que torna tarefa obrigatória ao torcedor avaiano o pedido de uma (ou mais) rodadas de chopp. “Senão não tem como aguentar”, disse um amigo meu com 2 Ipas na mão, que preferiu não se identificar para não dar problema em casa.

Seus personagens também são de uma relevância inenarrável: a Leoa do Avaixonadas, o Cacaio e seu rugido, a turma da Força Azurra, o tio do “Vamo vamo avaê”, dentre outros que não conseguiria citar em uma simples crônica como esta. Personagens estes que compõem a mística futebolística e nos fazem lembrar um pouco de uma época que nossos pais, avós e familiares (como meu sogro) viram no Campo da Liga antes mesmo da Ressacada existir. E por todos esses personagens escrevo com propriedade: a Ressacada ainda resiste em termos de elitização e ao futebol chato, moderno. É um local democrático. Há gente que reclame do preço, mas para ir “Basta virar sócio!” responderiam os sócios. “Mas não consigo ir todo jogo!” responderiam os não sócios. Discussão calorosa!

A cada gol feito, o pico da emoção e a cada gol sofrido a decepção de uma falha individual ou coletiva. Não importa. Tudo isso será debatido por dias nos programas de rádio, pelas ruas da cidade, ou (pelos torcedores mais modernos) nas redes sociais. 

Independente do resultado, na despedida do estádio fica sempre a saudade e a vontade de que o próximo jogo chegue logo, afinal, é em lugares como o Setor D que uma pessoa adulta cercada de compromissos e boletos novamente vira criança e que as crianças conseguem realizar os sonhos de verem seus jogadores avaianos à poucos metros de distância. 

Fica minha homenagem ao Setor D e que a Ressacada (independente do Setor) nunca perca essa magia e se mantenha como um dos últimos redutos da resistência desta cidade, se tornando como escreveu Dazaranha: “[…] Um oceano, um mirante, um sorriso; que essa Ilha não pode perder”.

Renan Schlickmann

Por

Renan Schlickmann


Renan Schlickmann é jornalista, ex-produtor, repórter e apresentador da Rádio Guarujá, ex-repórter da Rádio Regional e SCC SBT. Torcedor avaiano, irá trazer notícias, comentários, entrevistas e muita interação com a nação avaiana.

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2 respostas para “Crônica: A mística do Setor D do Avaí, por Lui von Holleben”

  1. Alcemir Alves disse:

    Gostei da sua crônica, sou sócio do setor a mais de 15 anos, vc conseguiu descrever o sentimento da galera do nosso setor D. Parabéns, belas palavras!

  2. JANE VENERANDO DOS SANTOS disse:

    Realmente, a melhor torcida no estádio. Deixa a “mancha a ver navios.”

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