Camila Pasin: A relação entre respiração bucal e o desempenho do atleta

05.06.2021

Camila Pasin: A relação entre respiração bucal e o desempenho do atleta

De acordo com estudos, a respiração bucal provoca alterações em um atleta diminuindo sua capacidade aeróbica significativamente. Em um atleta, a respiração é geralmente mista, no momento do exercício, mas se a respiração bucal for predominante existirá uma queda na resistência aeróbia e nos reflexos, por consequência o rendimento esportivo diminuirá, podendo representar uma queda de 20% da capacidade total do indivíduo.

Para iniciar essa análise, é preciso considerar que no hábito adequado de respiração nasal, o ar é filtrado, aquecido e umidificado, protegendo as vias aéreas superiores e inferiores. As vias aéreas superiores são formadas pelas: fossas nasais, faringe e laringe. As vias aéreas inferiores são formadas pela: traquéia, brônquios, bronquíolos e alvéolos. Os três últimos localizados nos pulmões. Assim, a respiração nasal é fisiológica e deve acontecer naturalmente e de forma imperceptível.

Entretanto, a respiração bucal, acontece, na maioria das vezes, em consequência da impossibilidade de puxar o ar pelo nariz, seja por alguma obstrução, como um desvio de septo nasal, hipertrofia/aumento das conchas nasais e/ou adenóides, processos inflamatórios e infecciosos (gripes, resfriados, sinusites, rinites, tumores nasais, entre outros), ou até mesmo por alterações neurológicas e anatômicas do sistema respiratório.

A respiração bucal pode causar:

  • Infecção das vias aéreas: uma vez que não há o processo de filtragem, aquecimento e umidificação do ar, pode fazer com que microorganismos naveguem sem grandes problemas para dentro do corpo, principalmente para a garganta, causando infecções não só nesse ponto, mas em outras partes das vias aéreas.
  • Ronco: Para as crianças entre 2 e 7 anos que apresentam o problema, se o ronco não for resolvido, podem ocorrer alterações no desenvolvimento dos ossos do crânio e da face. Com o passar dos anos, outros distúrbios podem surgir, como palato (céu da boca) alto e ovalado, arcadas dentárias atrésicas (estreitas), aumento na taxa de incidência de erupção (nascimento) dos dentes permanentes tortos e queixo retraído. Já na fase adolescente e adulta, a presença de ronco em consequência da obstrução da via aérea pode causar despertares frequentes com fragmentação do sono e consequências ao longo do dia, como sonolência excessiva, piora da produtividade e da qualidade da vida.
  • Inchaço abdominal: Ao respirar pela boca, a pessoa pode engolir muito ar, o que leva ao acúmulo de gases no estômago e intestino, que distendem as vísceras e causam dor e desconforto na região do abdômen.
  • Apneia do sono: São interrupções respiratórias que levam a pessoa a despertar (em diversos níveis), inclusive até mesmo sem perceber diversas vezes durante o sono. O resultado disso é um aumento no cansaço durante o dia e queda na produtividade e/ou desempenho.
  • Dores nas costas: Normalmente, uma das causas da respiração bucal é a má oclusão dentária. Portanto, quando os dentes estão desalinhados, as musculaturas da mandíbula, do pescoço e das costas, que estão interligadas, são exigidas de maneira mais intensa. Além disso, quando a pessoa inspira o ar pela boca, automaticamente, ela muda sua postura, projetando a cabeça para frente a fim de facilitar a entrada de ar, forçando os mesmos músculos citados.
  • Diminuição do olfato e paladar: Respirar pelo nariz faz com que o fluxo de ar leve as partículas odoríferas até os receptores do olfato, que se localizam na porção superior da cavidade nasal. Com a obstrução do nariz e a respiração pela boca, esse mecanismo é impedido e consequentemente ocorre a redução do olfato. Já o paladar pode sofrer interferência uma vez que a respiração bucal vai levar a uma sensação de boca seca e interferir na sensibilidade das papilas gustativas (pequenas saliências que se encontram, principalmente, na superfície da língua).
  • Halitose: Quem respira pela boca apresenta maior ressecamento bucal, e isso aumenta a descamação das células da mucosa da boca e também das bactérias que se alimentam dessas partículas. Então, com a respiração bucal, esses germes acabam se proliferando, e em conjunto com os restos de alimentos e células descamadas, há a formação da chamada saburra lingual, uma camada de placa esbranquiçada que fica sobre a língua, e é a principal causa da halitose. Com o passar do tempo, e sem o tratamento para a respiração pelo nariz, a halitose pode ser tornar crônica. Ou seja, constantemente a pessoa terá mau hálito, podendo estar mais ou menos agravada conforme a existência de outras causas e os cuidados que se toma diariamente com a saúde bucal.
  • Dificuldade em realizar atividade física: Quando a pessoa não respira pelo nariz, o corpo possui menor quantidade de oxigênio circulante, o que diminui a capacidade pulmonar do indivíduo. Por isso, o desempenho em qualquer atividade física é menor, e o cansaço e a fadiga ocorrem mais rapidamente. A longo prazo, essas consequências se tornam mais significativas, além de causarem uma sobrecarga adicional ao sistema cardiovascular, que trabalha com menor oferta de oxigênio e nutrientes necessários. As consequências disso avançam para problemas vasculares sérios, como desenvolvimento de hipertensão arterial.

A questão é que esse hábito normalmente se desenvolve desde criança e, em uma consulta de rotina com um dentista, esse hábito pode ser observado através de uma simples anamnese1 ou, até mesmo, o profissional já observando alterações ósseas com conseqüências dentárias, musculares e articulares. E, a partir daí, realizar um tratamento multidisciplinar, que envolverá médico, dentista, fonoaudiólogo, fisioterapeuta e, quando necessário, um preparador físico para melhor o condicionamento respiratório do atleta.

1 – levantamento do histórico médico/odontológico que vai desde os sintomas iniciais até o momento da observação clínica, realizado com base nas lembranças do paciente.

Foto: Envato Imagens

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Camila Pasin

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Camila Pasin


A Drª Camila Redin Pasin é graduada em Odontologia pela Universidade Federal de Santa Catarina e especialista em Ortopedia dos Maxilares e Ortodontia. É sócia proprietária da AMMÊ Odontologia Especializada e apaixonada pela sua área de atuação! 

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